Já não estou a caminhar para nova. Não interessa que tenha apenas 26 anos, a verdade, é que não estou a ficar mais nova. Se estivesse, para o ano faria 25 anos, certo? E pelas minhas contas … faço 27 anos. Por isso, estou a caminhar para velha e caminho devagar, para demorar mais tempo. E ainda há gente que me envelhece. Que me cansa. E eu que já estou a caminhar para velha. Mas graças aos santinhos, também há gente que me renova. Que me convence que ainda tenho seis anos de idade, como o meu sobrinho, a quem finjo que sou um elefante e depois um crocodilo muito grande e um comboio e um avião que anda lá, bem alto!
E o tempo passa. Passa depressa e passa devagar, consoante a nossa disposição, mas passa sempre, sem deixar que ninguém lhe passe à frente. E olho para o meu tempo, tão curto e tão desperdiçado, às vezes, e nem acredito que já passou. Ainda ontem tentava manter-me em pé (entenda-se, refiro-me à minha infância e a quando aprendi a andar e não à época da Queima das Fitas), ainda ontem dizia “gugu dádá”, ainda ontem era uma pivete sardenta a quem lhe tinha caído o dente da frente. E esse ontem já passou.
Hoje acordei assustada com o tempo. Com a velocidade dele e sobretudo, com a dor de consciência de quem nem sempre o aproveita, como se não soubesse que o tempo é relíquia.
Queridos carequinhas,
Tornamo-nos mestres e apreciadores do tempo, conscientes da sua fragilidade, crentes do seu valor. Acho que é o melhor ensinamento que levamos disto tudo. E hoje, só vos queria relembrar que depois, quando tudo passa, às vezes esquecemo-nos que já fomos apreciadores do tempo, que o pusemos no copo e o cheirámos e sentimos, como se faz ao vinho, e que o amámos antes de o consumir. Hoje só quero cheirar e apreciar o meu. Que apesar de cada vez mais maduro e velho, o tempo pode ser sempre amado e apreciado, como quem aprecia um belo copo de vinho.