Cancro com humor_ Geral

É bom como o vinho.

revista comJá não estou a caminhar para nova. Não interessa que tenha apenas 26 anos, a verdade, é que não estou a ficar mais nova. Se estivesse, para o ano faria 25 anos, certo? E pelas minhas contas … faço 27 anos. Por isso, estou a caminhar para velha e caminho devagar, para demorar mais tempo. E ainda há gente que me envelhece. Que me cansa.  E eu que já estou a caminhar para velha. Mas graças aos santinhos, também há gente que me renova. Que me convence que ainda tenho seis anos de idade, como o meu sobrinho, a quem finjo que sou um elefante e depois um crocodilo muito grande e um comboio e um avião que anda lá, bem alto!

E o tempo passa. Passa depressa e passa devagar, consoante a nossa disposição, mas passa sempre, sem deixar que ninguém lhe passe à frente. E olho para o meu tempo, tão curto e tão desperdiçado, às vezes, e nem acredito que já passou. Ainda ontem tentava manter-me em pé (entenda-se, refiro-me à minha infância e a quando aprendi a andar e não à época da Queima das Fitas), ainda ontem dizia “gugu dádá”, ainda ontem era uma pivete sardenta a quem lhe tinha caído o dente da frente.  E esse ontem já passou.

Hoje acordei assustada com o tempo. Com a velocidade dele e sobretudo, com a dor de consciência de quem nem sempre o aproveita, como se não soubesse que o tempo é relíquia.

Queridos carequinhas,

Tornamo-nos mestres e apreciadores do tempo, conscientes da sua fragilidade, crentes do seu valor. Acho que é o melhor ensinamento que levamos disto tudo. E hoje, só vos queria relembrar que depois, quando tudo passa, às vezes esquecemo-nos que já fomos apreciadores do tempo, que o pusemos no copo e o cheirámos e sentimos, como se faz ao vinho, e que o amámos antes de o consumir. Hoje só quero cheirar e apreciar o meu. Que apesar de cada vez mais maduro e velho, o tempo pode ser sempre amado e apreciado, como quem aprecia um belo copo de vinho.

Cancro com humor_ Geral

10 razões para seres Hipocondríaco.

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Significado de Hipocondríaco: “Crença de que sintomas físicos reais e imaginários são sinais de uma doença grave, a despeito da certeza médica de que eles não são.”

Isto é mau, certo? É o que te dizem. Mas não é, digo-te eu. Compreendo que duvides desta minha lista, e que aches que só a fiz para defender um defeito que tenho. É verdade. Já que não o consigo mudar, a única opção que encontro é defendê-lo. É uma boa abordagem, não te parece? Sempre que tenho um defeito há demasiado tempo, começo a encontrar-lhe virtudes, pois, como não diz o povo, “se não o podes mudar junta-te a ele”.

Se és hipocondríaco, podes começar a ficar orgulhoso de ti. Vou mostrar-te como é fenomenal ser hipocondríaco e como o Mundo é que tem estado errado … a achar que nós é que somos maluquinhos.

1 –  O hipocondríaco é o gajo mais saudável de sempre porque nunca chega de facto, a adoecer. Ainda não sentiu nada e já está no médico. Pronto, a salvo.

2 – O hipocondríaco é super compreensivo. Se um amigo tem uma doença? Ele compreende. Porque, na sua cabeça, também a tem.

3 – O hipocondríaco está sempre pronto a acompanhar o amigo, familiar, ou até desconhecido, ao hospital. Porque assim, aproveita a viagem e faz umas análises.

4 –  O hipocondríaco pode ir a conferências e colóquios só para médicos, mesmo não sendo médico, porque conhece mais doenças … que os médicos.

5 – O hipocondríaco dá muito valor ao tempo e tem real noção da efemeridade da vida. Porque acha sempre que está a morrer.

6 – Com os hipocondríacos, garantimos que nunca faltarão voluntários para ensaios clínicos. Há sempre um hipocondríaco pronto a testar um medicamento de graça.

7  – Um hipocondríaco faz-te sentir que estás melhor do que pensas. Porque qualquer doença que tenhas, a dele será sempre pior.

8 –  O hipocondríaco é um artista. Tem capacidades incríveis para inventar histórias.

9 – O hipocondríaco está sempre a pensar no futuro: “o pior ainda está para vir quando amanhã, me diagnosticarem a doença do dia”.

10 – O hipocondríaco é um vencedor!Está sempre a ganhar … novas doenças.

Da vossa hipocondríaca

Marine

Bora anotar?

Parte a Cara SIM! Mas parte-a INTEIRA.

marineQueridos carequinhas, sobreviventes, apoiantes e restantes pessoas do Mundo,

Convido-vos a partirem a cara. Todinha. Sim, sim, mesmo tu, Oh boneca, de sorriso branco que esconde, lá no fundo, uma cárie, até mesmo tu – parte essa carinha toda. Não, não estou a oferecer bofetadas a ninguém, como fez o nosso mais recente desempregado, João Soares, mas estou  a dizer-vos que acho muito bem que partam a cara.

Eu parto-a dia sim, dia não, com excepção do domingo (porque é dia de descanso), e parto-a como sei: com tudo e sem rede. Mando-me e atiro-me, porque “aqui vai disto!”, e espeto-me, ao comprido, sujeita a ouvir gargalhadas dos outros que me ferem mais que a própria queda. Depois da porrada, levanto-me atrapalhada, sacudo a roupa e percebo que estou a sangrar dos joelhos. Choro como se tivesse cinco anos, não das dores mas da vergonha, e choro com ranho, que é desse choro constrangedor que vos falo. Rogo pragas, a mim e ao Mundo, fico com dor de cabeça e, nesse dia, vou para cama sem jantar e às 20 horas.

No outro dia, acordo inchada dos olhos mas o ego, acorda pequenino, porque desinchou quando dei o trambolhão no dia anterior. Olho para a minha bela figurinha, olho para o meu ego pequenino e deixo sair um sorriso vitorioso: caí com a tromba no chão, outra vez. O que significa, que dei tudo o que tinha. Nesse dia, ainda não me sinto melhor, no outro também não. Mas deixo passar um tempo. O meu tempo. Deixo passar o tempo e começo a sentir-me mais confiante. Olho para o lado. Vejo as outras, que parece que não quebram, que não caem, que não se partem ao meio. Lamento por elas. Têm tantas defesas que estão a perder o melhor disto tudo. Nunca amaram com loucura, nunca apanharam um avião sem destino, nunca dançaram à chuva, nunca disseram “acho que te amo”, no primeiro dia, nunca se despediram para terem o seu próprio projeto, nunca jogaram a uma raspadinha com o único euro que tinham, nunca pararam o carro, para ver o arco-íris com verdadeira contemplação. Nunca arriscaram. Nunca partiram a cara. Nunca se sentiram vivas.

Parte a cara, sempre que puderes. Parte a cara mas parte-a toda. Não é fraqueza, é ousadia. Não é estupidez, é coragem. Parte a cara mas se não for para a partires inteira, não vale a pena. Porque quem tem reservas, quem dá a meio gás, quem hesita, quem controla, nunca receberá inteiro.

E tu vales mais do que isso, não vales?

Não queiras o perfeito que não quebra, mas o tolo que cai e que no outro dia, já se está a rir.

 

Dedicado a uma das princesas mais corajosas e brilhantes, que conheço.*

Da vossa

Marine,